No contexto português, o Dia do Trabalhador foi uma das celebrações mais importantes após a revolução. Como foi a sua evolução ao longo dos tempos e como é percecionado hoje?
O primeiro dia de maio em 1886 terminou em tragédia em Chicago, nos Estados Unidos da América. Um grupo de operários em greve envolveu-se em confrontos com a polícia que culminaram em prisões e na morte de vários trabalhadores. Em 1889, a Segunda Internacional Socialista, em Paris, decidiu convocar anualmente uma manifestação anual para este dia, com o objetivo de lutar pela redução da jornada laboral diária.
A 1 de maio de 1974, apenas uma semana após a Revolução de Abril, o Dia do Trabalhador é finalmente comemorado de maneira livre e decretado feriado. Mas é preciso recuar: como lembra Licínio Santos, mestre em História Contemporânea, o 1º de Maio era comemorado pelos movimentos operários durante a 1ª República, com a “consciencialização de unidade e da classe operária”. Licínio, que investiga, entre outras coisas, o associativismo operário entre o final do século XIX e o início do século XX, lembra que, mesmo durante a altura do Estado Novo, a ocasião era celebrada, embora com uma enquadração diferente. Com efeito, podemos ler na obra “História de Portugal”, do historiador José Mattoso: “Em 1933 é decretada a “unicidade sindical” e o “controle governamental dos sindicatos” esmorecendo um movimento operário. Durante o Estado Novo as manifestações no Dia do Trabalho (e não do Trabalhador) eram organizadas e controladas pelo Estado.”
O 1 de maio nos dias de hoje
Para António Santos, vice-presidente do SITESE (Sindicato dos Trabalhadores do Setor de Serviços), destaca a importância dos sindicatos na obtenção de direitos essenciais, mas lamenta que os jovens não adiram aos movimentos sindicais: “Como não se fixam nas empresas, não têm estabilidade, não querem saber dos poucos direitos que têm, partem do princípio que vão ganhar o salário mínimo ou pouco mais do que isso.”
Alerta que a geração antiga, responsável por muitas conquistas, está a acabar. Para o sindicalista, é fácil de explicar que as gerações mais velhas sejam “mais reivindicativas”, porque “quem viveu num regime de opressão e se apanha em liberdade, é normal que a partir daí se preocupe mais com direitos, faça tudo para não voltar à situação anterior.” Reconhece que ainda há muito por fazer, sobretudo no setor da hotelaria e restauração, que é o que melhor conhece por ser a sua realidade diária – António é empregado de mesa. Mas reforça a importância de ser sindicalizado, de modo a que os trabalhadores estejam informados sobre os seus direitos e tenham força para negociarem com entidades patronais, para além do apoio jurídico que lhes é garantido em caso de necessidade, por exemplo.
Licínio Santos acredita que o problema é que o Dia do Trabalhador seja “encarado como um dia de festa, ou de descanso apenas, não um dia de reivindicar direitos”.
Já Albino Almeida, Presidente da Assembleia Municipal de Gaia, é da opinião que o 1º de maio é ainda hoje um dia da maior importância, e provou nos últimos anos continuar a fazer “todo o sentido”. Destaca a importância da luta por salários mais altos e uma mais justa distribuição dos rendimentos para uma economia mais forte. Para o presidente da Assembleia Municipal, a introdução do salário mínimo nacional é a grande conquista que veio com o 1º de maio, pois permitiu “a dignificação da vida das pessoas”.
No cenário atual, Albino Almeida reforça a necessidade de valorizar o trabalho e subir salários, e chama a atenção sobretudo para a necessidade de aproximar a oferta de emprego às expectativas e à formação dos jovens.
António Santos elege o direito à greve como o mais importante obtido no pós-25 de Abril, “sem dúvida”. Para o vice-presidente do SITESE, a cisão e as diferenças existentes entre alguns movimentos sindicais não são necessariamente prejudiciais; os movimentos complementam-se, tendo métodos de ação diferentes. O mais importante, frisa, é a união dos trabalhadores.
