A região Norte poderá ser “uma boa surpresa” e tornar-se num “caso de estudo” de recuperação económica se, apesar da incerteza provocada pela covid-19, aproveitar as suas vulnerabilidades para mostrar capacidade de resiliência, adaptação e inovação, afirmaram especialistas.
Substancialmente “vulnerável” e “fragilizada” dada a dependência dos mercados internacionais, Alberto Castro, professor de economia da Católica Business School, acredita que a região Norte poderá vir a ser “uma boa surpresa” em termos de recuperação económica.
A capacidade de adaptação da região às fragilidades que a pandemia veio espelhar – com os vários setores, logo de início, a transformarem-se para produzir máscaras, luvas, ventiladores, álcool gel e aplicações móveis – permite criar uma “expectativa”.
“É tudo têxtil, calçado e mobiliário, mas quando se destapa a panela vê-se que lá dentro está uma economia a fervilhar e com maiores dinâmicas de especialização e entrada em cadeias de valor internacionais do que se poderia pressentir”, referiu.
O modo como a região se reposicionou poderá ajudar a antever o seu caminho de recuperação económica, acredita o docente, que espera que a região comece a “emergir” e criar “dinâmicas interessantes” de aproximação à inovação.
“Costumo dizer que os empresários portugueses são muito devotos de São Tomé, é o ver para crer, e, entretanto, começam-se a criar dinâmicas interessantes”, afirmou.
A vulnerabilidade com que a região recuperou da última crise, em alguns distritos maioritariamente pela via do setor do turismo, levam a socióloga Lígia Ferro a acreditar que a recuperação se fará a “ritmos diferentes”.
“Sabemos que enfrentamos uma grande incerteza, assim como sabemos que a recuperação se vai fazer em diferentes velocidades, diversos territórios e distintos grupos da sociedade”, salientou.
Para a socióloga, alguns indicadores da última década, como o índice global de inovação da região Norte podem, no entanto, ser “animadores”.
“Temos uma estrutura tecnológica e de inovação que poderá ajudar a amortecer um pouco este impacto”, afirmou, acrescentando que é preciso “olhar para o território como espaço de redes sociais e económicas que podem funcionar criando sinergias”.
Uma das “oportunidades” para a economia de expansão, acredita Lígia Ferro, é a “vulnerabilidade da zona Norte às alterações climáticas”, que se for vista como uma oportunidade, a região “pode tirar vantagem das próprias fragilidades”.
Ainda que estes indicadores possam “ajudar a amortecer” os impactos da pandemia, a socióloga defendeu que a tendência será de “acentuação das desigualdades”, em particular entre as zonas do interior e do litoral.
Para Vasco Leite, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, os territórios de baixa densidade territorial “não vão sofrer tanto” os impactos da crise como as economias mais urbanas, devido à especialização produtiva, um dos fatores que contribuiu para que as zonas do interior se tornassem “mais resilientes”.
“Nestes territórios, o emprego está tipicamente no setor primário e na administração pública, que são os setores mais protegidos pela crise da covid-19”, afirmou, acrescentando que a assimetria regional “vai continuar”.
“Aquilo que esperamos é que essa resiliência continue porque o confinamento é menor. Espera-se que a crise económica no primeiro trimestre de 2021 seja menor do que no primeiro confinamento porque há uma abertura maior, nem tudo fechou, e assim sendo, esta assimetria vai continuar”, salientou.
Também Pedro Chamusca, da Associação Portuguesa de Geógrafos, afirmou que o setor produtivo e o comércio da região terão de se “reconfigurar”, serem capazes de inovar e adaptar por forma a responder às necessidades futuras.
“O setor tem de conseguir ser socialmente útil, criar retorno e emprego. Só assim se poderá fugir de uma crise económica e social”, sublinhou.