Sexta-feira, 13 Setembro 2024

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Programa de saúde mental de Gaia aposta na prevenção e literacia 

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É preciso falar cada vez mais, e com maior clareza, de saúde mental. Deste princípio saiu a primeira semana de saúde mental de Vila Nova de Gaia. Entre os dias 10 e 15 de outubro, realizaram-se várias atividades e conversas sobre o tema; no penúltimo dia, foi altura de discutir e propor novos caminhos para garantir uma melhor resposta aos cidadãos.

publicado na edição em papel de 21 de outubro de 2022

No dia 14 de outubro, o auditório do Parque Biológico de Gaia acolheu a primeira edição das Jornadas da Saúde Mental. O presidente da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, falou, no seu discurso de abertura, sobre aquilo que considera uma “responsabilidade ética institucional” – injetar dinheiro na saúde, de que é exemplo o programa municipal de saúde mental, apresentado no mesmo dia. Apesar de a saúde ser uma competência do Estado, Eduardo Vítor Rodrigues diz que “quem vai usar estes serviços são os cidadãos. Não estamos a financiar o Estado, estamos a financiar as pessoas.” 

Durante o dia, momentos de debate com profissionais de saúde permitiram discutir os principais desafios da saúde mental na atualidade. O cenário pós-pandémico, o elevado grau de incerteza face ao estado atual da economia e a exposição constante a notícias negativas criam um cenário onde é complicado manter uma mente saudável. A dificuldade no acesso a serviços de psicologia foi um problema identificado, mas os oradores estavam em unanimidade quanto a um aspeto: a chave para uma sociedade mais saudável reside também na prevenção e na promoção da saúde mental, e na desestigmatização da doença. 

O programa municipal de saúde mental, intitulado Feliz(Mente), surge nesta linha de pensamento. Apresentado por Patrícia Lopes, psicóloga e adjunta do presidente da Câmara, o programa pretende reforçar o papel das autarquias na manutenção da saúde mental dos cidadãos, através de uma série de iniciativas. A criação de gabinetes de apoio psicológico permite sinalizar e dar resposta mais rapidamente a situações que o exijam, numa lógica de maior proximidade. A conversa sobre a saúde mental continuará a ser promovida, através de tertúlias e workshops destinados a vários públicos, em que pais poderão desenvolver competências parentais e jovens poderão aprender a lidar com as suas emoções de forma mais salutar, por exemplo. Está ainda incluído um programa de prevenção do suicídio. Será feito um trabalho próximo com jovens portadores de deficiência ou incapacidade intelectual/adaptativa, procurando formar “grupos de vida social apoiada”, onde se podem juntar para fazer “coisas como ir ao cinema ou ver um pôr do sol”.

Por falar em vida social, também os idosos não ficam esquecidos: para contrariar a solidão que muitas vezes se abate sobre esta faixa etária, a ideia é colocá-los em contacto com os mais jovens, e elucidar os cuidadores para “o amor na terceira idade”. A nível do trabalho, estão pensadas várias estratégias, da qual se destaca o “aprender a parar”, ferramenta necessária numa altura em que o burnout é uma doença tão frequente. Já a iniciativa “Sábados no Parque” servirá para dar continuidade a algumas das atividades que muitos experimentaram pela primeira vez esta semana: mindfulness, pilates, reiki, risoterapia, yoga, caminhada, entre outras, levando a sério a máxima de “mente sã em corpo são”. Serão ainda celebrados protocolos com a Ordem dos Psicólogos Portugueses, a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, e outras entidades.

Os números de perturbações da saúde mental são preocupantes. Em Gaia, têm maior expressão a demência, o alcoolismo e a depressão; com esta última, estão diagnosticados cerca de 10% dos utentes inscritos nos centros de saúde do município.

Nestas primeiras jornadas da saúde mental, ficou claro que, para combater este cenário, é necessário que todas as partes da sociedade assumam as respetivas responsabilidades, e o município mostrou estar disponível para cumprir com a sua parte. 

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