Uma parceria com o Instituto +Liberdade (maisliberdade.pt)
*escrito com Juliano Ventura
O salário médio tem crescido de forma anémica ao longo das duas últimas décadas em Portugal. Apesar da remuneração média ter subido consideravelmente, se for descontado o crescimento dos preços ao longo deste período (inflação), o crescimento real do salário médio é residual.
Comparando a evolução do salário médio entre os países europeus da OCDE (salários médios em paridade de poderes de compra e descontando a inflação), Portugal tem o 4.º pior desempenho ao longo das 2 últimas décadas, só melhor do que a Itália, Espanha e Grécia. Estes quatro países do sul da Europa formam o acrónimo PIGS, cronicamente deficitários e com maus desempenhos económicos.
O salário médio português apenas cresceu 4% neste período, o que representa uma diferença significativa para os países onde o salário médio mais cresceu: Lituânia (178%), Letónia (167%) e Estónia (154%). Em média, nos países europeus da OCDE, o crescimento foi de 22%, quase 6 vezes mais do que o crescimento do salário dos portugueses.
A quase estagnação do salário médio, associada ao crescimento mais elevado do salário mínimo nacional, tem levado a que, nos últimos anos, o salário mínimo represente uma percentagem cada vez mais elevada da remuneração média. Em 2021, o salário mínimo representava 64% do salário médio, sendo que em 2015 representava 55%. São também cada vez mais as pessoas que recebem o salário mínimo nacional – no final de 2021, cerca de um quarto dos trabalhadores portugueses estava nessa situação.
Os números apresentados dividem a Europa a três velocidades: economias de leste com forte crescimento económico e salarial, após o fim da União Soviética e adesão à UE; economias do centro e norte da Europa com crescimento consistente e que afirmam a sua posição entre as economias mais ricas e desenvolvidas do mundo; e as economias do sul, onde nos incluímos, que consolidam-se na cauda da Europa, praticamente estagnadas e ultrapassadas pelas mais pujantes economias de leste. Teremos algum dia a capacidade, visão reformista e ambição para descolar desta posição tão pouco honrosa?