É certo que o Sporting falhou e deveria ter sido mais eficaz no bloqueio dos seus espaços defensivos. E a reflexão pode ser alargada a um conjunto de falhas (micro ou macro) que ocorreram no plano ofensivo, de tal forma que a equipa perdeu algum do seu equilíbrio. E Rúben Amorim tem razão quando diz – e bem – que o jogo foi bem mais atrativo para os espectadores do que para o treinador em si. Compreende-se. Mas também se pode confrontar com a parte romântica da coisa: são dois pontinhos a voar para o Sporting (também para o Braga) mas, em contraponto, o Braga-Sporting foi um notável cartão de visita do futebol português, que tanto precisa de jogos com golos e instabilidade no marcador.
A questão é que o Braga teve um mérito tremendo quer no plano tático quer no plano emocional. Porque não é normal uma equipa estar por três vezes a perder e conseguir recuperar todas essas vezes. Com Artur Jorge no comando, a ideia de jogo pode diferir, mas o que interessa reter é mesmo o contexto dos arsenalistas: um excecional conjunto de jovens que se mistura com um núcleo de jogadores mais experientes, puxando uns e outros para o mesmo lado. O Braga mostrou qualidade, competência e, sobretudo, uma atitude assinalável. Porque o carácter da equipa só se perceciona quando as equipas estão a perder. Inequívoco.
Depois, há jogadores que fazem a diferença e que, no passado domingo, foram absolutamente determinantes. Desde logo, e mais uma vez, Al Musrati. Inteligente em todos os detalhes do jogo – então nas receções orientadas é tremendo – o jogador líbio puxou a equipa para a frente nos momentos de maior aperto, obrigando o miolo leonino a recuar e, sobretudo, a enrodilhar-se num espaço em que a sua capacidade de desequilíbrio era menor. É, na realidade, um dos melhores e mais completos jogadores da liga portuguesa, com uma abrangência de soluções que o tornam absolutamente imprescindível e, naturalmente, alvo de cobiça permanente. Até porque o seu padrão exibicional é sempre muito alto: em qualquer sistema, o rendimento de Al Musrati pouco oscila e tal afigura-se como determinante para a consolidação das dinâmicas de equipa (leia-se também obtenção de pontos preciosos). E convém abordar o outro lado da barricada, até na sua componente do mérito: o Sporting também está de parabéns pela forma como obteve os golos, de uma qualidade coletiva inegável e dentro de uma conjuntura em que os jogadores responderam em pleno a uma dinâmica de exigência significativa. E obteve os golos dentro de um padrão em que a equipa do Braga esteve sempre bem organizada. O tal Braga que está muito forte e consolidado.
Fosse pelas rápidas incursões de Victor Gomez pelo lado direito (à semelhança do que fazia Yan Couto na temporada passada): fosse pelos lances de laboratório que desaguaram no segundo golo; fosse pela articulação plena entre Al Musrati e André Horta; e fosse também pelo constante massacre físico que Vitinha provocou em Gonçalo Inácio, inibindo o central leonino de construir de forma mais regular e eficiente, o Braga surpreendeu pela positiva e, a afinar e a continuar com este padrão exibicional, pode subir um degrau na sua dura montanha rumo ao título.
Num jogo marcado pelo lance do terceiro golo do Braga, referência ao rol de críticas injustas de que tem sido alvo Ricardo Esgaio. Que ficou um contra um perante um jogador bem mais rápido do que ele, o que deveria ter sido antecipado por um Edwards que se alheou da cobertura ou pelos médios que se ausentaram da zona de bloqueio. Depois, os centrais leoninos também deveriam ter tido outra proteção em relação a um típico movimento de recuo e ataque ao espaço protagonizado por Abel Ruiz. E, fazendo um parêntesis, também não se compreende que um jogador com a experiência de Esgaio se deixe abater pelos comentários e tenha de fechar as suas redes sociais. Haja ponderação!
E o Braga parece que não se irá esbater com a saída de Ricardo Horta. É certo que a sua capacidade finalizadora rende muitos golos por época, isto para além de estar perfeitamente integrado na manobra ofensiva da equipa. No entanto, entra também em campo a componente financeira: o Braga vende por 15 milhões de euros e ainda recebe jogadores de qualidade indiscutível, que poderá rentabilizar e vender por mais. Para o Benfica fica o lado do rendimento desportivo: com 28 anos, só um desempenho do outro mundo poderá permitir que Ricardo Horta algum dia seja vendido por um valor superior. Estão lançados os dados e são bastante arrojados!