Sexta-feira, 13 Setembro 2024

#informaçãoSEMfiltro!

Dente amarelo em justo sorriso vermelho

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Rodar pouco os quadros, consolidando as rotinas e capitalizando a equipa em torno dos seus elementos mais talentosos. Criando uma espécie de escudo protetor para o crescimento atempado dos mais jovens sendo que António Silva, por mérito próprio, escapou a esta redoma e afirmou-se na linha dos melhores. Aproveitar o mercado de inverno para contratar elementos para o futuro, não se deixando abalar pela saída extemporânea de Enzo Fernandez, provavelmente o jogador mais influente até à data da sua saída. Mas, afinal de contas, o que tal importa? E quem não tem Enzo caça com Chiquinho. Lá está. E aí reside uma das questões do mundo encarnado. 

Porque Chiquinho não é Enzo – nem para lá caminha – mas está longe de ser um jogador inapto. Muito pelo contrário. Apesar do Benfica ter perdido em termos de intensidade e ligação entre sectores – realce para aparecimento muito pronto em zonas de tiro – Chiquinho mostra muita apetência em termos de dinâmica ofensiva e consolidação de pressão nas zonas certas. Com resultados significativos: veja-se o primeiro golo frente ao Brugge em que Chiquinho, pressionado, soube direcionar o jogo para a transição ofensiva sair pela zona correta (lado esquerdo). Deu golo. 

No entanto, é no miolo que o Benfica tem o seu “calcanhar de Aquiles”. Ou não. Por outras palavras, por muito que o rendimento de Florentino, Aursnes, João Mário e Chiquinho seja meritório e sempre um ponto forte, é preciso ter em linha de conta que qualquer onda de lesões ou castigos pode condicionar de sobremaneira a eficácia desse mesmo sector, dada a imediata ausência de alternativas de primeira linha. Sim, porque aí reside o eixo fundamental de todo o contexto: o Benfica de Schmidt desenvolveu-se e potenciou o seu modelo, capitalizando João Mário para zonas de finalização com a perfeição noção da mais-valia que é o ataque de Gonçalo Ramos à primeira bola bem como a exploração de espaço que só Rafa consegue oferecer à sua equipa. Por outras palavras, por muito que se possa argumentar que o Benfica porventura necessitava de menos pilares e de uma equipa com segundas linhas mais aptas, certo é que a ideia de Schmidt tem resultado e valha a verdade: quem fez 23 jornadas da liga com este contexto também pode aguentar mais 11. É a lógica das coisas a funcionar, sendo que a perda de pontos dos rivais ajuda. 

Mas não é no miolo que o Benfica apresenta o seu elemento mais propenso ao desequilíbrio. Esse reside na defesa. Seja em explorações do seu flanco – mérito extensível a António Silva e à sua boa apetência para o passe longo a partir da primeira fase de construção – seja em aparecimento em zonas de miolo e de tiro, a leitura de jogo de Grimaldo é absolutamente essencial para a dinâmica ofensiva dos encarnados. Num contexto de equipa grande em que os laterais são absolutamente decisivos no ataque, a exponenciação das capacidades de Grimaldo é a melhor notícia possível para os encarnados. Sobretudo numa equipa que tem Gonçalo Ramos – um elemento de notável eficácia quando chamado a atacar a primeira bola, lendo sempre a situação um segundo antes que todos os outros. Por isso, a temática da renovação de Grimaldo é de extrema importância, até porque não se vislumbra nenhuma alternativa imediata ao mesmo nível. Preparado por Rui Vitória na antecâmara de Eliseu, a preponderância de Grimaldo desde 2015/2016 tornou-se numa referência dos encarnados, que têm no seu flanco esquerdo um verdadeiro ponto de perigo para os adversários.

Com a questão da discutível capacidade das segundas linhas na ordem do dia – também a pouca capacidade do guarda-redes Odysseas para acautelar situações de profundidade parece ser preocupante – o Benfica vive no seu meio-campo uma espécie de limbo existencial que, não sendo preocupante, faz com que partidas frente a Boavista ou Vizela possam demorar mais tempo a ser resolvidas do que aquilo que seria previsível. Ou seja, depois de uma partida frente ao Braga em que o Benfica derrocou depois de ter perdido o equilíbrio defensivo do seu meio-campo (mérito do Braga – colocação de Racic e construção de linha de três), algum receio invade o pensamento de Schmidt: por isso, muitas vezes mais vale não ter Neres no campo. Porque o Benfica individualmente é bem mais forte que a maior parte das equipas portuguesas e a coisa, por si, há de se resolver. Com tempo. Ou não e, nesse prisma, Neres assegura desequilíbrio e uma segunda parte frente ao Boavista que significou uma verdadeira corrida atrás do prejuízo. Que correu bem. Seja como for, quem vive na indefinição acaba por se dar mal. Acaba com um ponto amarelo num longo e justo sorriso vermelho. 

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