Sábado, 9 Dezembro 2023

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Cenas e Contracenas

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1. NOA, a cantora do violino, Lia Gesta de seu nome, é um dos artistas em destaque na oferta cultural da cidade de Gaia para este fim de semana. Cidadã gaiense de nascimento, cuja principal inspiração assenta na antiguidade e no clássico, apresenta-se esta noite ao vivo no Auditório Municipal, num concerto que passa em revista alguns dos seus maiores sucessos.  Envolvida desde muito cedo no universo das artes, Noa iniciou-se no ballet clássico com apenas 6 anos e aos 10 ingressou na Academia de Música de Vilar do Paraíso, onde descobriu o violino, um instrumento que a fascina e que passou a fazer parte do seu dia-a-dia. A sua paixão pela música e o gosto pela poesia inspirou-a a compor desde muito cedo, em conjunto com o pai, o que a levou a frequentar o curso de Estudos Portugueses e Lusófonos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, concluindo depois o Mestrado em Literatura Portuguesa, formação que contribuiu decisivamente para o enriquecimento das suas criações a nível poético. Noa não sabe com exatidão qual o seu género musical, visto que as suas influências foram surgindo de vários espectros musicais e temporais, fundindo estilos que estiveram presentes no seu crescimento musical. Em palco, destaca-se pela empatia que cria espontaneamente com o público que lhe reconhece o talento, a sinceridade e a humanidade com que se entrega à sua arte. Quem decidir não assistir ao concerto nem sabe o que perde!

2. RICARDO ALVES está também este fim de semana de volta a Gaia, mais concretamente ao seu centro histórico, para mostrar uma das mais recentes produções da Palmilha Dentada, icónica companhia teatral nascida na cidade do Porto há 21 anos, que é acima de tudo um grupo de reflexão política e um projeto independente de intervenção cívica com uma forte componente humorística. Paralelamente às suas funções de primeiro responsável pela direção da Palmilha, que deixou o seu percurso nómada para se fixar num espaço próprio, onde investe no teatro e em todas as outras artes performativas, da música à dança, do novo circo às mais diversas formas animadas de expressão artística, amplificando o sentimento de comunidade dos que se reúnem no seu espaço a vivenciar emoções “ao vivo” e em consonância, reforçando sinergias, cumplicidades, laços de união que propiciam melhores inter-relações e a geração de novas reflexões e pensamentos sobre os caminhos futuros da vida em sociedade. Tudo isto sem nunca deixar de se desdobrar pontualmente por diversos outros projetos culturais e artísticos, alguns deles desenvolvidos em Gaia com grande sucesso graças à sua intervenção direta enquanto criador, técnico e animador cultural. Mas é sobretudo como autor e encenador do espetáculo “Vincenzo”, que o traz, a ele e à Palmilha Dentada, de volta a Vila Nova de Gaia, no âmbito do IV Festival de Teatro José Guimarães. 

3. IVO ROMEU BASTOS, PAULO CALATRÉ E RODRIGO SANTOS (em off) são os protagonistas de “Vincenzo”, espetáculo construído a partir do processo da Santa Inquisição a Galileu Galilei e de uma hipotética visita do Papa Urbano VIII à cela onde Galileu aguarda o julgamento. Num registo predominantemente cómico, entre a farsa e o teatro do absurdo, com uma forte componente de crítica social e política, em modo de intervenção cívica esclarecida, que é marca d’água do Teatro da Palminha Dentada desde a sua fundação, o espetáculo promete muitas e salutares gargalhadas, sonoras e inteligentes. O texto, a direção plástica e a encenação são de Ricardo Alves e a sua representação tem lugar amanhã, dia 1 de outubro, às 21h30, no auditório da Tuna Musical de Santa Marinha. A não perder, mesmo!

4. JORGE PINHEIRO é um dos artistas mais influentes das artes plásticas portuguesas da segunda metade do século XX, membro do célebre grupo “Os Quatro Vintes”, com Ângelo de Sousa, Armando Alves e José Rodrigues. Parte da sua obra, que evidencia o seu interesse pela música, pela matemática e pela semiótica, está patente numa exposição no vizinho Espaço Corpus Christi que pode ser visitada de terça a domingo, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00, com entrada gratuita. Entre as obras expostas, que fazem parte da Coleção da Fundação de Serralves, podem ser apreciadas uma importante instalação dos anos 1970 e a sua peça tridimensional de maior dimensão, além de um significativo conjunto de pinturas.

5. ROBERTO MERINO, dramaturgo, encenador e pedagogo teatral, chileno de nascimento, natural de Concepción, cidade que dista 500 quilómetros de Santiago do Chile, escolheu o exílio quando Pinochet chegou ao poder, em 1973. Depois de algum tempo na Alemanha, acabou por se fixar em Portugal nos finais da década de 1970, onde assinou até hoje mais de uma centena de encenações. No nosso país, tem trabalhado sobretudo com o TEP-Teatro Experimental do Porto, Seiva Trupe e Teatro Art´Imagem, e com diversos grupos amadores e universitários, ao mesmo tempo que dirige o Curso Superior de Teatro da ESAP-Escola Superior Artística do Porto desde a sua fundação há 40 anos. Mas eis que atinge hoje a idade de jubilação, pelo que se vê obrigado a deixar as funções de docente. Perde a ESAP e perdem os seus alunos! Perdemos todos! Pergunto-me se a Câmara de Gaia não devia aproveitar a disponibilidade deste grande mestre de teatro, cidadão gaiense por adoção, para criar uma estrutura municipal de produção teatral ou dirigir artisticamente o principal palco da cidade. 

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