1. AINDA A PROPÓSITO da Carta Metropolitana para a Cultura, que esperamos venha a ser um instrumento de implementação de uma política cultural em Gaia que estimule a construção de objetos artísticos, no domínio de todas as expressões, do cinema ao vídeo, da música à multimédia, da dança ao teatro, da escultura à pintura, da fotografia ao designer, etc, visando a implementação real da cultura, traçando como objetivo o papel fundamental e crucial das artes e da cultura no desenvolvimento de uma população mais capaz de se interrogar, a si, aos outros e ao mundo. Temos que desbravar caminhos que colmatem os erros cometidos no passado, através de um plano de emergência que abra “autoestradas” para a construção do “edifício cultural do amanhã”, que ambicionamos se traduza na criação de infraestruturas, no aprofundamento de conhecimentos artísticos e tecnológicos, e na constituição de condições objetivas para o desenvolvimento de um trabalho estruturante e de futuro. Impõe-se valorizar a atividade cultural desenvolvida pelos equipamentos existentes e favorecer a emergência de novas iniciativas, criando novos lugares de criação. Além do apoio a projetos de ocupação e recuperação de espaços em declínio ou devolutos para atividades culturais, importa erguer uma espécie de “Fábrica das Artes” incubadora de projetos emergentes, que para além de funcionar como espaço de criação-e-experimentação e lugar de mostra regular de projetos em forma de “show-case”, se constitua também como estrutura organizadora de uma Mostra Anual de Todas as Artes, aberta a todos os artistas e criadores, consagrados e emergentes, que percorra as vinte e quatro freguesias do concelho, ocupando tanto os espaços mais convencionais como lugares considerados improváveis.
2. UM DOS PILARES do “edifício cultural do amanhã” deve consubstanciar-se também no reforço das relações institucionais num quadro de apoio estratégico e sustentado com o movimento associativo, universo de estruturas que se tem afirmado pela sua enorme pujança nos domínios da cultura popular e comunitária e se desejam cada vez mais sólidas do ponto de vista dos modelos organizacionais e dos métodos de gestão. Estas associações permitem já hoje, apesar de todas as condicionantes de ordem técnica e dos constrangimentos de natureza financeira, construir um discurso razoavelmente rico e informado relativamente à criação e produção artística. No entanto, é urgente melhorá-lo e abri-lo ao futuro, através de um diálogo de perfil dinamizador que potencie, especialize, qualifique, diversifique e difunda a oferta dos bens culturais que produzem. Promovendo a convivência, a interação, a complementaridade e a programação de iniciativas conjuntas entre os agentes socioculturais e o movimento associativo é possível a concertação de estratégias que enriqueçam o tecido cultural de Gaia. Esse entendimento é essencial ao aumento da oferta e ao cruzamento de culturas singulares, tão ricas e diversificadas, cujas identidades importa preservar e promover. Não basta, porém, desenvolver programas de estágios e residências artísticas ou mecanismos regulares de circulação de projetos interassociações. É necessário concertar meios a uma escala que possam construir efetivamente uma plataforma a várias dimensões, exequível no plano multilateral, mas que compreenda também como se podem, no seu quadro, empreender relações fortes de criação artística num plano bi ou até trilateral.
3. OUTRA DAS FRAGILIDADES estruturais do desenvolvimento cultural em Gaia resulta da inexistência de um elo de ligação à economia baseada no conhecimento, pelo que urge criar eixos de orientação que potenciem a convergência da cultura com a ciência, tecnologia e a inovação. É preciso, para isso, estimular uma mais forte e maior ligação às instituições científicas, tecnológicas, académicas e empresariais. Isto porque é urgente promover a abertura e interação das disciplinas científicas e tecnológicas com outros saberes disciplinares que baseiam a criatividade, promovendo a troca de experiências e a fertilização cruzada de conhecimentos. O capital humano é o principal fator de progresso e criador de riqueza, e só através do conhecimento, a que a criatividade e a inovação acrescentam valor, se consegue garantir o crescimento e desenvolvimento de uma sociedade. A economia baseada no conhecimento é a mais competitiva, dinâmica, e a única capaz de criar desenvolvimento económico sustentável com mais e melhor emprego e maior coesão social.
4. GAIA REÚNE TODAS AS CONDIÇÕES para ser a “capital da criatividade” a norte, se desenvolver uma estratégia de longo prazo e definir os grandes eixos de orientação que permitirão maximizar o seu potencial criativo. Um desses grandes eixos deve assentar numa aposta clara nas indústrias criativas, facilitando a integração de núcleos de criação e produção no concelho, potenciando-os e dando-lhes visibilidade. Entenda-se por indústrias criativa aquelas que têm origem na criatividade, no talento e nas capacidades individuais, com potencial para a geração de riqueza e emprego que advém da criação intelectual. O conjunto dessas atividades constitui atualmente, nos países mais desenvolvidos, o setor com maior crescimento e com um peso mais significativo na criação de emprego, registando um volume de negócios considerável. Por outro lado, o setor das indústrias criativas tem a capacidade de criar cidades com imagem forte e atrativa, com melhor qualidade ambiental. De facto, o desenvolvimento das indústrias criativas não é apenas uma aposta no crescimento económico. É também, sobretudo, uma aposta na qualidade de vida da cidade e dos cidadãos!