publicado na edição em papel de 01 de fevereiro de 2023
1. O ATOR PAULO MOURA LOPES, nascido em Gaia em 1974, concluiu o curso de teatro no Balleteatro Escola Profissional em 1997 e estreou-se profissionalmente dois anos antes. Começava aí um longo percurso que o levaria aos palcos dos mais diversos teatros, interpretando obras dos mais destacados autores da dramaturgia nacional e universal, sob a direção de alguns dos mais importantes encenadores portugueses. Apenas como exemplo, recordo a sua extraordinária prestação nos espetáculos “Ifigénia na Táurida” de Goethe e “Tito Andrónico” de Shakespeare, sob direção de Luís Miguel Cintra, com produção do Teatro da Cornucópia; “Baal” de Brecht e “A Nova Ordem Mundial” de Harold Pinter, sob a direção de Jorge de Silva Melo, com produção dos Artistas Unidos; e “Exatamente Antunes” de Almada Negreiros e “Casas Pardas” de Maria Velho da Costa, sob a direção de Nuno Carinhas, no Teatro Nacional São João. Neste teatro, sublinho ainda a sua criação no espetáculo “Woyzeck” de Georg Buchner, com encenação de Nuno Cardoso, que o afirmaria definitivamente como um dos mais promissores atores da sua geração. Na televisão, deixou expresso o seu talento na novela “Laços de Sangue”, nas séries “Maternidade” e “Garrett”, bem como em inúmeras séries animadas a que deu voz nos estúdios da Cinemágica e da Som Norte. Atualmente é professor no Seminário do Bom Pastor, em Ermesinde, mantendo-se afastado dos palcos há algum tempo. Mas eis que no passado fim de semana fui surpreendido com a estreia de uma peça que tem na ficha técnica o seu nome como encenador, o que pode ser o prenúncio do seu regresso aos palcos como ator. O público e o teatro ficariam a ganhar!
2. A BODA, uma adaptação da peça (em alemão mais literal “Pequeno Casamento Burguês”) de Bertolt Brecht, foi o espetáculo que marcou o regresso de Paulo Mora Lopes ao teatro, desta feita “apenas” na qualidade de encenador dos amadores do Grupo Dramático de Vilar do Paraíso. Diz quem teve oportunidade de assistir à estreia do espetáculo, no passado dia 28, que os atores souberam servir na perfeição esta importante peça do dramaturgo alemão, que causou horror e escândalo na sociedade alemã conservadora da época. Escrita numa altura em que o marxismo ainda não irrompera nas suas obras e onde a dimensão política e didática, com a qual estamos habituados a identificar o dramaturgo, não é tão evidente, a peça é uma comédia de costumes, mas também uma sátira aos valores e aparências burguesas e ao seu choque com a realidade do seu inevitável desmoronamento. O espetáculo esgotou semanas antes da data da sua apresentação, pelo será reposto no próximo dia 4. Não perca!
3. A PROPÓSITO DE VILAR DO PARAÍSO, aproveito para perguntar a quem de direito o que se passa com a Casa Vila Alice, onde viveu a famosa Fanny Owen que Agustina Bessa-Luís imortalizou em livro e Manoel de Oliveira transpôs para o cinema em “Francisca”, há muito abandonada à degradação e à ruína. O atual secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, fez saber, através da sua conta pessoal do Facebook, quando era ainda presidente da Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso, que a Casa seria brevemente património municipal e objeto de reabilitação. E esclareceu que o imóvel é uma das referências do roteiro camiliano e seria integrado no conjunto de equipamentos culturais do concelho. Sublinhe-se que há muito tempo que têm sido encetadas várias tentativas no sentido de converter a Casa num pequeno museu sobre Camilo Castelo Branco, sem que os governantes locais tivessem sido sensíveis ao pretendido. Por último, recorde-se que aquele escritor, autor de uma produção literária extensa, nomeadamente de novelas passionais que fazem dele o maior representante do ultra romantismo entre nós, está ligado ao dramático episódio de amor proibido ocorrido naquela Casa do Século XIX que possui também uma história invulgar nas lutas liberais em Portugal. A concretização da decisão anunciada podia ser um indício da mudança de atitude do município face à defesa, divulgação e preservação do património material e imaterial com que se constrói a memória da história do nosso concelho, mas a realidade parece contrariar essa ideia. Será que estou errado? Era bom, era!
4. A TERMINAR, chamo a atenção para a estreia, nos próximos dias 3 e 4 de fevereiro, às 21h45, da nova produção da estrutura profissional avintense Primeira Pedra, que tem por palco o auditório dos Plebeus Avintenses. Trata-se do espetáculo “O Estafeta Toca Sempre Duas Vezes”, com texto de Antony Sousa e Pedro Miguel Dias, que também assina a encenação e dirige as atrizes Inês Cardoso e Vânia Mendes. Para aguçar o seu “apetite” aqui deixo a respetiva sinopse: “Bom, dizem-me que o tempo se está a esgotar, portanto vou ser rápido. Queria só agradecer aos meus pais pela oportunidade de estar vivo, aos meus gatos por me ensinarem mais sobre amor próprio do que qualquer pessoa, e aos meus cães por me ensinarem a perdoar e a estar presente. Por fim, deixo um cumprimento personalizado a todos que receberam em mãos uma pizza entregue por mim nos últimos meses. A resposta é o amor. Não percam mais tempo a pensar. Os pensamentos mataram mais vidas do que os serial-killers todos que existiram antes dos telemóveis e impressões digitais. E do que o Hitler. Não que eu concorde com o homem. Aquilo de facto não se faz, porém, o número de pessoas que se consome em pensamentos é comprovadamente superior aos indivíduos que passaram pelos terrores dos campos de concentração, e estiveram na guerra de espingarda em riste. Com amor. Assinado: O Estafeta”. Pois é! Isto promete, caro leitor, isto promete.