Sexta-feira, 13 Setembro 2024

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Cenas e Contracenas

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Edição em papel de 14 de outubro de 2022

1. TEATRO PSICOLÓGICO é o género de dramaturgia que preenche a programação do IV Festival de Teatro José Guimarães nos dois próximos fins de semana, depois de três espetáculos de registo humorístico de grande agrado do público que acorreu ao auditório da Tuna Musical de Santa Marinha, onde o certame acontece até 27 de novembro. A análise do comportamento humano, dos seus pensamentos e emoções sob o ponto de vista psicológico, são o grande desafio das propostas da ETCetera Teatro e da Astro Fingido, companhias profissionais com sede no Grande Porto, a primeira em Gaia e a segunda na cidade do Porto. 

2. LUÍS TRIGO E PEDRO MIGUEL DIAS, autores, atores e encenadores, companheiros de inúmeras aventuras nos palcos de teatro, amador e profissional, designadamente na ETCetera Teatro, estrutura cujo trabalho assenta no lema “teatro para todos”, levam ao festival no próximo sábado, às 21h30, “Vida Palhaça”, um convite à reflexão sobre o verdadeiro papel do artista e do homem. Assombrado pela sua história, em fuga de si próprio, um homem conhece o palhaço, um crítico inexorável, e com ele inicia uma viagem na qual aborda a fragmentação do “Eu”, através do universo do outro, um proscrito da realidade. O tempo que o palhaço passa em frente ao espelho, dentro do camarim, faz com que questione a vida e a própria existência, opondo o palhaço profissional ao palhaço da vida, ao caminho que desejamos e o caminho que nos é possível percorrer. Nesse tempo de reflexão, a personagem questiona-se, provoca-se, desestabilizando crenças e valores, pondo a descoberto a sua própria condição mental, os transtornos de personalidade, a confiança e os desejos mais íntimos. O espectador é, assim, convidado a observar a vida através da mente complexa de um homem em fuga das suas memórias, que salta intermitentemente entre a realidade e a ilusão, na procura de reconstruir o que já passou, e que não pode ser reedificado.

3. FERNANDO MOREIRA E ÂNGELA MARQUES, criadores teatrais que formam a equipa dirigente da Astro Fingido, estrutura que desenvolve boa parte do seu trabalho a norte, quer na área do teatro quer na da formação (integra, por exemplo, há 10 anos, o Programa Porto Crianças com o “Filosofário-Oficina de Filosofia” e desenvolve ações de proximidade com a comunidade da região do Tâmega e Sousa), sendo responsável pela produção de alguns dos mais interessantes projetos teatrais apresentados entre nós, de que são exemplos indiscutíveis “Mulheres-Móveis” ou “Memórias Brancas”, espetáculo que será apresentado no auditório da Tuna Musical de Santa Marinha, no próximo dia 22 de outubro, às 21h30.

4. CONSTRUÍDO A PARTIR DE RELATOS PESSOAIS sobre a perda irreversível da memória no teatro e na vida, “Memórias Brancas” junta três mulheres, Luísa Alves, Odete Môsso e Ângela Marques, gente concreta habituada a utilizar a memória como ferramenta de trabalho, três atrizes que se dispõem a dar o seu generoso contributo também sobre a perda da memória, situação por que passaram as suas mães. Cada vez mais as “doenças do esquecimento” nos circundam. Todos conhecemos casos mais ou menos próximos e é, portanto, urgente falar-se dessa perda irreversível que afeta não só o indivíduo que a sofre, mas também todos os que a ele permanecem ligados como cuidadores. Perdem-se faculdades, perdem-se funções, perde-se identidade. O que resta afinal? E é disso que o espetáculo fala, do teatro e da vida, do esquecimento passageiro, tão banal quanto assustador, mas momentâneo, que acontece no teatro (as célebres brancas que todos os atores tão bem conhecem!), mas também da função da memória na construção da vida individual e coletiva, através de 3 mulheres que entram numa casa devoluta para resgatar o passado. A não perder!

5. QUARENTA ANOS. Passam agora 40 anos sobre o desaparecimento de Adriano Correia de Oliveira, que nos deixou em 16 de outubro de 1982, com apenas 40 anos de idade. Aquele que foi uma das principais vozes da resistência ao fascismo, um dos percursores da canção de intervenção, um dos muitos que arriscaram ser a voz da denúncia contra a política do poder feroz que durante 48 anos nos condenou ao obscurantismo, à fome e à guerra, morreu em Avintes, nos braços de sua mãe, vitimado por uma hemorragia esofágica. Para trás ficava uma vida feita de canções e de luta contra a ditadura fascista, iniciada aos 17 anos, quando ingressou no curso de Direito da Universidade de Coimbra e ganhou maior consciência do estado da situação do Portugal. Adriano envolve-se nas greves académicas de 1962 e concorre à Direção da Associação Académica de Coimbra, numa lista apoiada pelo Movimento de Unidade Democrática (MUD), lançando em 1963 o primeiro disco, onde se inclui a “Trova do Vento de Passa”, a que se seguiram muitos outros até ao seu desaparecimento. A terra onde viveu não o esquece, como o não esquece o país democrático pelo qual lutou e os homens e mulheres que lutaram a seu lado. São 80 (tantos quantos os anos que passam sobre o dia do seu nascimento que agora se comemora) os amigos e admiradores que o recordam num livro de homenagem, editado pelo Centro Artístico, Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira (CACDACO) com o título “Adriano, Um Canto em Forma de Abril – 80 anos”. Juntemo-nos a esta justíssima homenagem, adquirindo o livro junto do CACDACO (912.489.305) ou da cooperativa UNICEPE (222.056.660)!

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