1. PARA ASSINALAR OS 80 ANOS do nascimento de Adriano Correia de Oliveira, o Centro Artístico Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira (Avintes) tem vindo a realizar um conjunto de iniciativas que arrancou em fevereiro do ano passado, tendo por palco as cidades do Porto, Vila Nova de Gaia, Coimbra, Amadora, Lisboa, Setúbal, entre muitas outras. As iniciativas deste evento, com o título genérico ADRIANO80, voltam de novo à cidade de Gaia, com a realização de um concerto de homenagem a este inesquecível trovador e lutador antifascista inconformado, que tem lugar no Auditório Municipal, no próximo dia 15 de abril, sábado, às 21h30. O concerto conta com a participação dos cantautores Carlos Alberto Moniz, Francisco Fanhais e Manuel Soares, a que se juntam o grupo Segue-me à Capela e a Banda Musical de Avintes. Uma excelente oportunidade de celebrar a liberdade conquistada com Revolução de Abril de 1974, homenageando uma das principais vozes da resistência ao fascismo, um dos muitos cantores de intervenção que arriscaram ser a voz da denúncia contra a política do poder feroz que durante 48 anos nos condenou ao obscurantismo, à fome e à guerra. Um homem com uma voz única que nos deixou um legado intemporal e de valor inestimável, enquanto músico, cantor e cidadão.
2. ESTA É TAMBÉM uma excelente ocasião para adquirir toda a discografia de Adriano Correia de Oliveira, reunida num pack de sete CDs recentemente editado, que foi ganhando forma em 1963, quando lançou o seu primeiro disco (Fados de Coimbra, onde inclui a “Trova do Vento de Passa”), a que se seguiu, em 1967, o vinil Adriano Correia de Oliveira, que, entre outras canções, tinha “Canção com Lágrimas”. Em 1969 editou O Canto e as Armas tendo todas as canções com poesia de Manuel Alegre. No ano seguinte saiu o disco Cantaremos e em 1971 Gente d’Aqui e de Agora, que marca o primeiro arranjo, como maestro, de José Calvário, que tinha apenas vinte anos. José Niza foi o principal compositor neste disco que precedeu um silêncio de quatro anos, recusando-se Adriano a enviar os textos à Censura. Em 1975 lançou Que Nunca Mais, com direção musical de Fausto e textos de Manuel da Fonseca, vinil que levou a revista inglesa Music Week a elegê-lo como Artista do Ano. E, em 1980, publicou o seu último álbum, Cantigas Portuguesas. Recorde-se que Adriano Correia de Oliveira, a par de José Afonso, embora com percursos muito próprios, foram os percursores do Canto de Intervenção, assim como Luís Cília – mas este no exílio, o que lhe possibilitava uma linguagem mais direta e politizada, sem subterfúgios e entrelinhas, porque não tinha que fazer face à censura imposta pelo regime. Depois deles, surgiram muitos outros cantores, compositores e cantautores, direta ou indiretamente por eles influenciados, alguns quase da mesma idade de Adriano – nascido em 1942 – mas todos mais novos que Zeca Afonso – nascido em 1929 –, que prosseguiram o caminho iniciado por ambos na velha Coimbra, na transição da década de 1950 para 1960. Junte-se à história!
3. POR FALAR EM MÚSICA, recordo que o Festival Marés Vivas também já mexe! Nos dias 14, 15 e 16 de julho todos os caminhos do rock on roll, do hip hop, do r&b contemporâneo, da música eletrónica, do rock alternativo, da música experimentalista e da swing music vão dar ao antigo Parque de Campismo da Madalena. Para já estão confirmados os norte-americanos Black Eyed Peas, o colombiano J Balvin, os irlandeses The Script, o australiano Xavier Rudd e os portugueses Slow J, Da Weasel, Quatro e Meia, Fernando Daniel e Jorge Palma. E outros grandes nomes da atualidade serão anunciados brevemente. Mas se o leitor for, como eu, um fã incondicional do enorme Jorge Palma, autor de canções amplamente transversais como “Frágil”, “Deixa-me Rir”, “Estrela do Mar”, “Dá-me Lume”, “A Gente Vai Continuar”, “Deixa-me Rir” ou “Encosta-te a Mim”, que se tornaram hinos intemporais, cujo percurso de vida observa-se sempre a par da música, desde exímio pianista com formação erudita, ao rock’n’roll e de um modo geral à música popular americana e inglesa, repartindo-se durante os anos 1970 e o princípio da década de 1980, entre as suas primeiras edições fonográficas em Portugal e as ruas e carruagens de metro de cidades europeias como Paris ou Copenhaga, onde enfrentava o público de guitarra em punho, então não perca muito mais tempo: adquira já o seu ingresso para o primeiro dia do Marés Vivas!
4. A TERMINAR, sugiro uma visita ao Centro Interpretativo do Património da Afurada (CIPA), que tem neste momento patente, até 26 de abril, a exposição “Afurada Vista pelo Feio”, de Francisco Plácido de Abreu (Feio, de nome artístico), artista natural de Lever (Gaia), que se iniciou nas artes plásticas em Moçambique, tendo feito a sua primeira exposição na cidade da Beira em 1967. No regresso a Portugal, em 1975, Feio dedicou-se a perpetuar a pincel nas telas a terra que o viu nascer, e as suas gentes, que retrata de forma transfigurada. Para além desta mostra, o CIPA mantém acessível ao público um conjunto de exposições permanentes, das quais destaco a que tem por título genérico “Afurada”, que procura mostrar a história e os costumes desta freguesia de Gaia. Através de vários módulos constituídos por entrevistas a pescadores e varinas, seus instrumentos de trabalho e vestuário, bem como inúmeros registos em vídeo e fotografia, podemos conhecer melhor aquele território, sua origem e evolução, desde o tempo dos fundadores até aos tempos modernos.
*publicado na edição em papel de 12 de abril de 2023