Sexta-feira, 29 Março 2024

#informaçãoSEMfiltro!

Bloco de Notas

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Salvador Santos

Agente Cultural

1. Surgiu nas cantigas a conselho médico, fez-se jornalista ao perder temporariamente a voz e tornou-se atriz por paixão. Simone de Oliveira é uma mulher notável. Foi sempre inteira em tudo o que fez, como artista e como mulher. A menina pachorrenta, gordinha e de caracóis, que foi vítima de violência doméstica aos 19 anos, rebelou-se contra as convenções sociais desse tempo e transformou-se numa mulher livre e independente, que venceu uma depressão, dois cancros e várias outras doenças, sem nunca se deixar levar por queixumes. Tem triunfado com brilhantismo em todos os “palcos”, da arte e da vida, sem pisar ninguém. Cantou os melhores compositores e poetas nacionais, edificando uma discografia rica e diversa, onde sobressaem temas como “Desfolhada”, “No Teu Poema”, “Sol de Inverno”, “Esta Lisboa Que Eu Amo” ou “Cinco Quadras Cinco Pedras”. É uma das nossas mais queridas e carismáticas artistas, com uma longa e brilhante carreira de 65 anos, no decurso da qual foi galardoada com os mais diversos prémios, desde o “Óscar” da Imprensa ao Globo de Ouro, da Comenda da Ordem do Infante D. Henrique à Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, tendo sido mais recentemente distinguida com o Prémio Voz/Montepio, “por ser uma voz marcante para todos os portugueses, uma lutadora e um exemplo”. A todos estes galardões, juntou-se agora uma justíssima distinção do executivo da Câmara de Gaia, que decidiu, por unanimidade, atribuir-lhe a Medalha Municipal de Mérito Cultural – Grau Ouro.

2. A participação de Simone de Oliveira na primeira sessão deste ano do projeto Palavras Soltas, a que tivemos o ensejo de assistir “em diferido” no dia 30 de abril, dissipou todas as dúvidas que pudessem subsistir sobre a justeza da decisão do município de Gaia em atribuir-lhe a Medalha de Mérito Cultural da Cidade. Com as respostas que deu às questões suscitadas pelos anfitriões Tito Couto e Jorge Oliveira, a par da magnifica atuação que proporcionou a todos os que assistiram ao “vivo” no Cineteatro Eduardo Brazão, ou através das várias plataformas digitais da Câmara de Gaia, Simone de Oliveira calou os vários críticos que levantaram a voz contra aquela distinção do executivo municipal. Ela é muito mais do que uma cantora e atriz respeitável. É sobretudo uma mulher lutadora, um exemplo de vida para todos nós, uma mulher de garra, uma admirável portuguesa. E Gaia não é uma paróquia!…

3. O FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, o mais antigo festival de teatro do país, reafirma-se como o evento privilegiado de difusão das novas tendências contemporâneas do teatro de expressão ibérica, alargando-se a outras formas de expressão artística, como a dança contemporânea ou o novo circo. Na sua vigésima quarta edição, que arrancou no dia 1 de maio, o FITEI estende a sua programação às cidades de Viana do Castelo, Matosinhos, Viseu, Porto e Gaia. Na cidade da margem esquerda do Douro estão previstas representações de cinco criações. i) No espaço Zé da Micha, no centro histórico de Gaia, acontecem duas apresentações do espetáculo “Luto”, um projeto transdisciplinar, para espaços ao ar livre, que tem como ponto de partida o fogo de outubro de 2017 que devastou a região centro do país. Trata-se de uma produção do grupo Circolando, que pode ser vista nos dias 4 e 5 de maio, às 20h00. ii) No Auditório Municipal, os alunos do 2º Ano da Escola Profissional de Teatro do Balleteatro apresentam, no dia 7 de maio, às 19h30, o exercício teatral “Testamento em Três Atos”, a partir da peça Rei Lear de William Shakespeare, dirigido por Ricardo Teixeira, com o qual se pretende refletir sobre os conceitos de efemeridade e legado. iii) No mesmo palco, mas no dia 9 de maio, às 17h00, sobe a cena a mais recente produção (“Santa Inês”) da companhia galega Feroz, que nos fala de liberdade, obediência, violência e misticismo, tendo como pano de fundo o Convento de Santa Clara de Santiago de Compostela. iv) Também no Auditório Municipal, temos oportunidade de assistir à estreia de “Estrada da Terra”, uma criação do coletivo A Turma que revela a tragédia de uma geração que se debate pela busca de autenticidade numa sociedade decadente. Com uma linguagem violenta e sem filtros, o espetáculo tem lugar nos dias 14 (19h30) e 15 (17h00) de maio. v) Nos mesmos dias e horários, o Armazém 22 recebe a estreia de “Perfect Match”, do Hotel Europa, um espetáculo de teatro documental sobre a importância do amor e das relações amorosas nas migrações que marcaram o século XX em Portugal. São estes os cinco espetáculos do 44º. FITEI que passam por Gaia. A não perder!

4. A Casa-Museu Teixeira Lopes/Galerias Diogo de Macedo tem patente ao público uma exposição de Desenhos e Caricaturas de Amadeo de Souza-Cardoso, visitável até 17 de julho e absolutamente imperdível. Vítima da epidemia “pneumónica” que assolou a Europa no início do Século XX, este génio do modernismo europeu morreu novo, mas deixou um legado vasto e admirável. A sua obra, que começou por ser recebida com hostilidade em Portugal, por incompreensão e saloiice do nosso meio cultural, é hoje amada e disputada pelos maiores amantes e colecionadores de arte pictórica de todas as latitudes. O desenho e a caricatura foram os primeiros territórios por si explorados, nos quais se fundam toda a sua obra, mas raramente expostos. Esta mostra reflete, segundo a investigadora Catarina Afaro, “o singular percurso de um artista que não via diferença entre as diferentes técnicas usadas e para quem o desenho e a caricatura foram sempre o meio por excelência para a observação social e a incansável experimentação, que caracterizou a sua carreira”. Vemo-nos por lá?!

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