Sexta-feira, 8 Dezembro 2023

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Avenida da República

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João Paulo Silva

Professor

O Morcego, o Salgado, Luís Filipe Vieira e a necessidade de cuidar do próximo

O conceito de Aldeia Global apresentado por McLuhan nos anos 60 do século passado antecipava algum do caminho que a tecnologia digital viria a trilhar, mas que se tornou, ironicamente, expressivo de forma catastrófica, através de um vírus.

Com a Pandemia que o Planeta está a viver ficou mais fácil perceber que os Países grandes dependem dos pequenos, que os mais ricos precisam dos mais pobres, que vacinar o ocidente está longe de resolver o problema no oriente. Há uma conexão permanente entre todos, entre todas as dimensões da nossa vida pessoal e social.

O vírus, que um imbecil americano teimava em chamar de Chinês, com ou sem morcego, espalhou-se de forma galopante, do Oriente à Feira de Milão e daí à indústria do calçado português. E, na China, tão depressa chegou, como partiu, tal o poder de uma ditadura digital que tudo limita e tudo controla. Em democracia, como se tem visto, tudo se torna, felizmente mais complicado, porque jamais será possível colocar em causa direitos essenciais, a pretexto de uma pandemia.

No entanto, vamos agora pela Índia e pelo crescimento das infeções numa parte importante da Ásia, que a situação está longe, muito longe de estar resolvido. Voltamos todos a perceber que vacinar nos países ricos da Europa não será suficiente e por isso, precisamos de ceder com urgência Vacinas aos mais pobres e, sobretudo, garantir que as patentes comerciais deixam de ser um problema para a existência de maior capacidade de vacinação.

E, embora pareça uma ligação forçada, dei por mim a pensar mesmo que “isto está tudo ligado” ao ver o Luís Filipe Vieira no Parlamento. Ou melhor, a presença de mais um devedor do BES é só mais um episódio no filme de terror em que Ricardo Salgado se tornou a personagem principal. Aliás, caro leitor, não acha estranho que em tudo o que de mau acontece neste país, há mão do BES? Até no Zmar!

Dizia eu, que no caso de Luís Filipe Vieira, segundo o próprio, colocado no Sport Lisboa e Benfica por indicação da banca, a conexão entre pontas soltas é absolutamente esmagadora – o homem vende uma dívida a um amigo. Supostamente esse amigo perde dinheiro. Muito dinheiro. Sim, também me lembrei do amigo do Sr. Sócrates. E o que faz o Sr. Vieira? Uma O.P.A. a ações do Benfica muito acima dos valores de mercado onde o tal amigo simpático ia ser tremendamente compensado. Ou seja, Vieira rouba o Benfica para tapar os furos dos seus negócios. Dito de outro modo, Vieira e o BES servem-se do Sport Lisboa e Benfica com a conivência dos poderes instituídos.

Ora, se no caso do Vírus, um “azar” no gigante Chinês condicionou a vida em todo o planeta, mal comparado, um “azar” no gigante BES condicionou a vida de todo o país. Com os milhões do BES, poderíamos, por exemplo, construir um hospital distrital em cada uma das nossas capitais de distrito, não? E quantos centros de saúde? E quantos médicos poderíamos contratar?

Ao criar estas sinapses algo estranhas, entre o morcego do mercado de Wuhan e a forma como Luís Filipe Vieira tentou subtrair dinheiro ao clube que diz defender, procuro de algum modo levar o leitor desta prosa para um território de irracionalidades onde qualquer teoria faz sentido e onde tudo e o seu contrário pode ser dito e escrito.

E, nesta espécie de pós-modernidade, onde o “Vamos ficar todos bem” pode ser substituído por “Ajudem-me, não aguento mais.”

Num tempo em que até o Sporting é campeão, sobram as singularidades – há todo um tecido social desfeito à espera do fim das moratórias ou do encerramento de empresa.

E falta-nos a rede.

O cuidar.

Com ou sem transferência de competências na área social, todos sabemos que Vila Nova de Gaia tem dado passos gigantes no sentido de fortalecer a rede de apoio à área social, procurando inclusive, através da autarquia, suportar as instituições desportivas e culturais para que elas se constituam como células dessa rede coletiva onde a palavra cuidar ganha uma importância acrescida.

Com o Covid percebemos que o Cuidar tem muitos significados.

Precisamos de cuidar com o nosso Sistema Nacional de Saúde, garantindo que ele é de todos e para todos.

Com as aulas a distância percebemos a importância dos Professores e da Escola Pública e de como ambos se tornam essenciais para cuidar das nossas crianças e jovens.

Com os confinamentos verificamos que o isolamento de parte da nossa população mais velha é um drama que urge resolver, uma situação, onde o verbo cuidar está ainda por escrever.

Sentimos ainda que as marginais cheias de gente não eram as melhores opções e que até havia locais no interior, nos montes e serras do nosso concelho, para cuidar e onde todos nos sentimos bem.

Tornar mais presente o verbo cuidar é uma urgência a que importa dar corpo.

A nossa dedicação ao verbo cuidar deverá ser total, até porque desse modo estaremos mais capazes de resistir às maldades de novas variantes dos vírus, sejam elas biológicas ou financeiras.

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