Realizou-se na passada sexta-feira, 21 de outubro, um seminário sobre “os desafios dos cuidados de saúde à pessoa idosa institucionalizada”, no Auditório Manuel Menezes de Figueiredo. A conferência contou com a presença de várias entidades da área da saúde.
O número de pessoas idosas no nosso país está a aumentar o que se está a tornar um problema a nível social. Segundo dados dos censos mais recentes, no município de Gaia 65 000 pessoas tem mais de 65 anos.
A conferência, que teve como foco a pessoa idosa e os cuidados de saúde a ela associados, contou com a presença de Dário Silva, vereador da Câmara Municipal de Gaia e de Aníbal Marinho, presidente da Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica, assim como vários profissionais de saúde ligados ao tema. A moderação ficou a cargo de Sérgio Afonso, diretor Municipal das Políticas Sociais no município de Gaia.
Sob o olhar atento de uma sala cheia, Henrique Barros, presidente do instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, abordou a questão da “convergência das políticas sociais e de saúde na conceção dos Planos Municipais de Saúde”. No seu discurso, o médico destacou a importância das iniciativas sociais como sendo um “motor de sobrevivência com qualidade” e alertou que “não é possível ter saúde sem enquadramento político”. Henrique Barros apontou o Plano Municipal de Saúde como uma possível visão para a cidade, através da mobilidade, respostas sociais e partilha de boas práticas e inovação.
Após o final do discurso, Dário Silva, interveio e realçou que o município de Gaia “tem dado um bom exemplo daquilo que efetivamente é possível fazer numa estreita relação que está estabelecida entre as instituições do concelho e o município”. O vereador relembrou ainda que a Câmara Municipal de Gaia já criou espaços públicos onde pode ser praticado exercício físico.
Os primeiros intervenientes da mesa redonda da manhã foram Daniela Martins, da divisão de Ação Social da Câmara Municipal de Gaia e Ricardo Marinho da CHU Porto, sob o tema “A importância de um modelo de cuidados de saúde em contexto organizacional centrado na pessoa idosa”.
Daniela Martins falou sobre os novos desafios de saúde e bem-estar da pessoa idosa institucionalizada. Muitas vezes, os idosos que residem em lares são vistos como meros recetores de um tipo de serviço que são obrigados a cumprir as regras estipuladas, o que leva a que esses serviços sejam realizados num tempo já estabelecido.
A médica destacou a importância de existirem cuidados “centrados e personalizados” na pessoa individual, seguindo a sua vontade própria, as suas crenças e os seus interesses.
Entre os novos desafios para a saúde da pessoa idosa, Daniela Martins apontou a implementação de processos de apoio e monotorização dos utentes, respostas inovadoras que consigam percecionar as várias etapas do envelhecimento e um modelo de cuidados que abranja vertentes de especialização, inovação e articulação.
Por sua vez, Ricardo Marinho abordou a malnutrição na pessoa idosa. A malnutrição é uma previsão da evolução clínica do doente e é um ciclo quase impossível de quebrar. Segundo o rastreio nutricional no CHU Porto, entre fevereiro e setembro deste ano, numa amostra de 2247 utentes, 50% estavam malnutridos.
O médico de cuidados intensivos ressaltou que a malnutrição é verificada 2,3 vezes mais em “utentes hospitalizados face aos utentes que vivem em casa”. Este estado patológico poderá causar um aumento das complicações, uma maior necessidade de hospitalização e o aumento do risco de morte.
Nos lares os utentes mais propícios à malnutrição são idosos com um vasto leque de patologias, com pouca capacidade de reabilitação e/ou apoio de nutrição clínica.
Depois de uma breve pausa, Teresa Amaral, docente da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto também dissertou sobre a malnutrição e a identificação e intervenção no problema.
A investigadora apresentou as seis dimensões de avaliação do estado nutricional, entre elas estão a ingestão alimentar, a avaliação física e a composição corporal. No seu discurso salientou ainda que “a malnutrição contribui para a diminuição da qualidade de vida”.
Maria Joana de Carvalho, do Centro de Investigação em Atividade Física, Saúde e Lazer da Faculdade de Desporto da Universidade Porto abordou a temática dos “benefícios do exercício físico adaptado e estruturado” para a pessoa idosa. A docente explica que para um envelhecimento bem-sucedido é necessária uma boa nutrição aliada “a mais atividade física”, seja ela diária ou mais faseada.
Para a pessoa idosa é importante a realização de exercícios de reforço muscular, exercícios aeróbicos e exercícios de equilíbrio que poderão também melhorar o padrão de marcha. O exercício físico é também um meio de prevenção que “quanto mais tarde pior”.
O último interveniente da sessão foi Hugo Ribeiro, coordenador da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos, que se debruçou sobre o tema “a importância dos cuidados paliativos para a pessoa idosa e organizações”.
Uma das áreas prioritárias da equipa é o apoio à família e o apoio no luto, aliados à preocupação com o suporte familiar e social do doente. A equipa só consegue atuar no domicílio se existir “um cuidador capaz”.
O médico paliativista revelou que a equipa dá formação a profissionais da área que estão nas instituições e que “não estão capacitados” e continua “não é culpa de ninguém, é culpa do sistema e do facto dos cuidados paliativos serem algo bastante embrionário no nosso país”.
Para encerrar a sessão, Dário Silva, agradeceu a presença de todos e abordou várias questões relativas à saúde no nosso país. O presidente da Assembleia Municipal de Gaia, Albino Almeida, encerrou a sessão, com um agradecimento à plateia, destacando a presença de um grande número de jovens na sala e a importância que isso revela.
