Sexta-feira, 8 Dezembro 2023

#informaçãoSEMfiltro!

As crónicas da minha terra

-

Benjamim Almeida

Natural de Sandim

A Rota dos Moinhos

Esta semana vou fazer, à minha maneira, um pequeno roteiro dos moinhos.

Começamos em direção ao lugar de Sá, onde veremos aparecer a antiga Escola de Sá e onde, mesmo ao lado, existe a rua das Arroteias, que nos leva em direção ao rio Uíma.

Em tempos, o Rio Uíma era afamado pelas suas trutas e bogas, mas a poluição tudo levou. À falta de melhor, imagine-as saltando o açude ou abocanhando um inseto, que é sempre uma imagem bonita.

Seguimos depois até à ponte de madeira, onde podemos cruzar o rio e observar de perto o Moinho de Gassamar, uma das relíquias que já não se encontra em atividade, tal como o canal tributário, com o seu belo conjunto de pontezinhas em pedra.

De regresso à ponte, seguimos em frente, por um caminho a subir com cerca de 50 metros, que conduz à Fonte das Arroteias, que vai deitando uma muito boa e procurada água.

Viramos depois pelo caminho da esquerda na ponte, mergulhando num belo bosque desembocando num caminho que nos conduz a uma ponte, a Ponte de Carro. Este caminho faria parte da antiga estrada Porto-Viseu, provavelmente de origem romana. Ao lado situa-se o hipódromo de Sandim.

Mais à frente outro moinho, o Moinho da Ribeira, desativado e com as suas mós encostadas à parede.

Chegados à estrada, continuamos o percurso paralelamente ao rio até à Ponte de Sá, onde se situa a antiga fábrica de papel. Desfrutamos da sua beleza e calma, que se desprendem do local antes de seguir em frente, pela estrada, em direção ao lugar de Chão de Moinho, onde existem quatro moinhos, três dos quais pertencentes à família do senhor Manuel Príncipe.

Na casa contígua mora o falecido Sr. José Ramos, conhecido por Sr. Batista, que mantinha com um carinho vigilante o seu moinho e canal em perfeitas condições de funcionamento.

Continuamos depois pela estrada e cruzando mais uma vez o Rio Uíma, subimos e encontramos “O Engenho”, uma antiga fábrica de papel, cuja força motriz era a água do rio e onde se produziu o primeiro papel selado do nosso país, há cerca de duzentos anos. Essa fábrica, já desativada, situa-se dentro duma quinta, onde encontramos mais dois moinhos, separados por uma ponte, em que juntos fazem uma belíssima imagem.

E escrevo este pequeno roteiro para chamar a atenção dos governantes da nossa freguesia, que ainda nas últimas eleições autárquicas prometeram colocar em prática o Projeto de Requalificação dos Moinhos de Sandim e freguesias circunvizinhas, conhecido como a Rota doa Moinhos.

Quer parecer que foi mais uma vez só a mesma promessa, que já conheço há mais de vinte anos, mas sempre sem ver ninguém a fazer nada para que seja possível restaurar esta parte da nossa história, já que os Moinhos foram um fator muito importante no desenvolvimento económico e social de Sandim.

Mas como não sou só eu a estar atento a esta realidade, descobri numa página de Facebook, um antigo moleiro a fazer um apelo aos nossos autarcas para que pensem bem neste caso e que passo a transcrever:

“Venho desde já chamar a atenção a quem de Direito, para a Realização dum Projeto de Requalificação dos Moinhos de Sandim e freguesias circunvizinhas de Gaia. Este projeto tem como objetivo a recuperação dos Moinhos e aproveitamento de terrenos envolventes.

Tal recuperação, em conjunto com a limpeza do meio ambiente, poderia vir a dar um belo parque de lazer, o que viria a enriquecer Sandim a nível turístico e cultural.

Não deixem morrer, o que fora em outrora, a história da indústria artesanal [moagem]. Célebres Moleiros que transformavam o cereal em farinha, fazendo assim o pão, este, que em tempos fora considerado um bem essencial das nossas famílias. Eu José Nunes, que em meu nome falo [ex. – moleiro de profissão], proprietário de um moinho que infelizmente não está ativo, alerto para que tal acontecimento não fique esquecido, o qual, fez parte da história dos meus antepassados.

Desde já agradeço vossa colaboração e espero que com tal chamada de atenção obtenha resultados.»

Temos, pois, obrigação de não deixar cair no esquecimento algo que faz parte da nossa história coletiva.

Um abraço

partilhar este artigo