Benjamim Almeida
Natural de Sandim
As «capelas» de Sandim
Esta semana escrevo sobre os tascos, que na minha juventude chamava-mos de “capelas”, que existiam, e em alguns casos ainda existem, na minha terra.
No lugar de Sá, ainda hoje existe o tasco do Espeta, que mantem o mesmo e conhecido traço arquitetónico desde a sua abertura. Este estabelecimento, conhecido por vender os melhores tremoços e servir os melhores paralelos da região (uma bebida feita na hora e constituída por gasosa, vinho branco e açúcar) é, atualmente, explorado pelas filhas do falecido proprietário.
Seguindo depois a rua principal, em direção ao centro da freguesia, no lugar do Espinheiro, existia o tasco do Ramos, que vendia uma das bebidas mais conhecidas na época, o pirolito. Era aqui que eu e os meus amigos passava-mos muito do nosso tempo. Entretanto, foram feitas algumas obras, passou a ser um café e mais tarde fechou.
Um pouco mais acima havia o tasco do Melo, que fazia as famosas pataniscas de bacalhau, contando ainda no cardápio com a «punheta de bacalhau» feita pela dona Alice. A título de curiosidade, foi por exemplo neste tasco, que eu vi pela primeira vez uma televisão á minha frente. Após a morte do Sr. Melo, a filha tomou conta do negócio, mas acabaria por fechar as portas, para tristeza dos clientes mais antigos.
Em S. Miguel-o-Anjo, havia o tasco do Rouquinho, conhecido na freguesia por ser o primeiro a ter televisão e telefone no seu estabelecimento, local onde ao Domingo à tarde se faziam bailaricos. Era aqui o ponto de encontro dos rapazes e raparigas da freguesia e de outros locais vizinhos.
Também existia, e ainda existe, no lugar da Candeeira a mercearia do Zeca da Gracinda, que servia o bacalhau salgado, acompanhado pelo bom vinho, vindo diretamente do pipo.
No largo da Igreja havia a Quina do Lopes, conhecida pelo seu bom bagaço e pelas paciências que vendia. Este tasco possuía nas suas traseiras um alambique, onde faziam o bagaço que vendiam no espaço comercial. Todos os domingos, no final das Missas, era este o ponto de encontro das pessoas de Sandim, que ali faziam as suas tertúlias sobre o que acontecia na freguesia.
No lugar do Tourão existia o tasco do Piolho, ponto de paragem do povo da minha terra, acompanhado pelos forasteiros que vinham para ver o futebol ao campo dos Dragões Sandinenses, aproveitando para beber os seus famosos paralelos e comer alguns dos seus petiscos.
No lugar do Marco existia o tasco do Couceiro, que servia sobretudo a população do lugar. Neste local costumava juntar-se um grupo de amigos para «jogar uma cartada».
Em Gestosa havia o tasco do Bertelinha, que tal como praticamente todos os outros da freguesia, além de tasco, servia como mercearia para abastecer a população da freguesia.
Havia ainda o Quarteirão, como era conhecido o tasco instalado no lugar de Aldeia Nova, fechou e acabou por dar lugar a um café.
Peço desculpa se me esqueci de algum, que se aconteceu não foi por mal, mas fica aqui um retrato de muito do que a minha terra tinha para oferecer à sua população. É com muita pena que vejo fechar estes autênticos símbolos da cultura de Sandim.
Um abraço