Pedro Bártolo tem 31 anos. Metade da sua vida foi dedicada ao basquetebol. Apesar da sua condição, isso nunca o impediu de sonhar e chegou à seleção nacional de basquetebol em cadeira de rodas.
Quando Pedro Bártolo tinha três anos, foi-lhe diagnosticado um problema de saúde, que necessitou tratamento. Na sequência da operação, ficou com uma lesão vertebral que o fez perder a mobilidade nas pernas. Está numa cadeira de rodas desde os seus seis anos, mas isso nunca o fez desistir dos seus sonhos.
A sua paixão por desporto é algo que lhe corre nas veias. A sua família paterna era aficionada por todas as modalidades e, portanto, desde tenra idade, Pedro assistia a todas as modalidades seguidas como era tradição e assim “privaram com tudo, com o hóquei em patins, com o andebol, com o basquetebol, com o futebol, e sempre foram adeptos ferrenhos”.
Na altura da escola, nem sempre era fácil a sua integração. Pedro recorda que as crianças “ironicamente têm uma capacidade de acolher muitas vezes mais fácil do que os adultos”, e que nunca se inibiu de brincar com os amigos, sobretudo nas modalidades que eram para si mais acessíveis, como o andebol, basquete e o voleibol.
O basquetebol sempre foi um desporto para o qual nutria um carinho especial e que Pedro sentia que tinha “alguma vocação e também era algo que me realizava muito. “Quando era um adolescente, estava em casa a assistir ao EuroBasket 2007, o campeonato europeu de basquetebol masculino, no qual participava a seleção portuguesa. Foi nesse momento, com 16 anos, que Pedro decidiu que teria de se juntar a uma equipa de basquetebol.
“Sentia que tinha alguma vocação (…) era algo que me realizava muito”
Com ajuda de um familiar, que fez “os esforços necessários para ver se encontrava alguma equipa”, acabaram por encontrar a equipa da Associação Portuguesa de Deficientes, a APD Porto. Foi nesse clube, hoje extinto, que em 2008 Pedro se iniciou de forma federada no basquetebol em cadeira de rodas.
“Muito cedo comecei-me a dedicar ao basquete de corpo e alma”
Pedro começou a treinar todos os dias com um colega de equipa, que na altura realizava um treino mais intenso, o que o permitiu evoluir como jogador. Apesar de nem saber da existência de desporto adaptado profissional ou desporto paralímpico, apercebeu-se rapidamente, a partir daí, que o basquetebol era aquilo que queria para a sua vida.
Outro momento marcou o início da vida de Pedro Bártolo no basquetebol. Passado um ano de estar a treinar, foi convocado pela selecionadora Inês Lopes para um estágio da seleção nacional, com o intuito de observar um alargado número de atletas. O atleta privou pela primeira vez com jogadores profissionais, e nesse momento, começou a pensar noutros voos e revela que “muito cedo comecei-me a dedicar ao basquete de corpo e alma”.
A sua chamada à seleção nacional só chegou anos depois em 2015. “Foi e é sempre a coisa mais gratificante”, relembra Pedro, que se estreou no campeonato europeu da divisão C, realizado em Lisboa. O basquetebolista fazia parte da apelidada “geração de ouro”, que ajudou Portugal a ser vice-campeão, um feito que o orgulha muito, pois representar o país “é sempre um expoente máximo na carreira de um atleta.”
A aventura fora de portas
Na sua carreira, Pedro Bártolo representou diversos emblemas. Iniciou-se na APD Porto e seguiu para a APD Paredes. Em 2013, emigrou para Espanha para jogar no Mideba Extremadura. Seguiram-se o BSR Valladolid e o Basketmi Ferrol. Passados cinco anos, viajou para o norte de Itália para representar o HS Varese durante duas épocas. Em 2020 voltou a Portugal, para defender as atuais cores que representa, o Basket Clube de Gaia.
“Em Portugal há quase um pudor em olhar para o desporto adaptado como um espetáculo e procurar comercializar isso, tirar partido disso, até financeiro. Um ato de caridade que se está a fazer”
O que o levou a sair de Portugal foi o desafio de jogar num contexto muito mais competitivo, que o fez treinar cinco vezes mais por semana do que treinava habitualmente. O basquetebolista conta que foi um início custoso e “não conseguia competir com ninguém”. Os 22 anos que tinha na altura permitiram-no evoluir, mas confessa “passei de ser um dos jogadores de referência do basquete de cadeira de rodas de Portugal, para ser um jogador insignificante no contexto espanhol.”
Em Portugal, o desporto adaptado está muito atrasado em relação ao que Pedro viveu nos outros países, especialmente em Espanha, “em Portugal há quase um pudor em olhar para o desporto adaptado como um espetáculo e procurar comercializar isso, tirar partido disso, até financeiro. Um ato de caridade que se está a fazer” lamenta.
Atualmente, Pedro Bártolo conjuga várias atividades. Para além de ser jogador do Basket Clube de Gaia, é também jogador-treinador da equipa. Além disso, trabalha no departamento de comunicação da Federação Portuguesa de Basquetebol, onde cobre tudo o que diga respeito à vertente de cadeira de rodas no basquete.